"Matéria muito interessante"
"Faxina", verbete da moda na Esplanada
Autor(es): » PAULO DE TARSO LYRA » DIEGO ABREU
Correio Braziliense - 19/08/2011
É a quarta vez que ela se encontra com o ex-presidente desde que assumiu o governo. Ontem, foi no lançamento de plano de combate às desigualdades sociais na Região Sudeste. "É o Brasil inteiro fazendo, de fato, como diz a imprensa, a verdadeira faxina que esse país precisa fazer. A faxina da miséria", disse a presidente, lançando mão de um termo que virou moda após ela começar a demitir ministros e agentes públicos acusados de corrupção.
Ações de combate à corrupção são recebidas com elogios entre integrantes do Legislativo e do Judiciário
A expressão "faxina" foi incorporada de vez ao dicionário político do governo Dilma Rousseff. A própria presidente usou-a ontem, em solenidade realizada em São Paulo para o lançamento do Brasil sem Miséria da Região Sudeste. "É o Brasil inteiro fazendo, de fato, como diz a imprensa, a verdadeira faxina que esse país precisa fazer. A faxina da miséria", disse Dilma (leia matéria abaixo), ampliando o termo que vem sendo utilizado pelos meios de comunicação para designar as demissões de ministros e de servidores públicos envolvidos em casos de corrupção.
O jargão surgiu por acaso, não foi algo pensado pelo governo. Mas as ações de combate à corrupção estão rendendo frutos perante a opinião pública e em alguns círculos influentes de poder, como no Supremo Tribunal Federal. O ministro Marco Aurélio Mello classifica a "faxina" conduzida pela presidente Dilma Rousseff de "uma cruzada em busca da ética". Para o magistrado, mais importante que o rótulo "faxina" é observar-se o conteúdo daquilo que se tem feito.
"Precisamos realmente no Brasil de uma cruzada para estabelecer-se a ética. O Brasil sangra, considerados a administração pública, os desvios de conduta, o fato de se ter administradores que não são vocacionados e que utilizam o cargo não para servir, mas para se servirem dele", opina o ministro do STF. "Acho que a presidente Dilma é merecedora dos nossos aplausos, do reconhecimento geral. Somente assim é que se avança", acrescentou.
Cruzada
Um aliado da presidente admite que não houve, até o momento, tempo para se avaliar ganhos políticos das ações contra corrupção. Para esse espectador privilegiado, a gestão Dilma, nestes oito meses, está acelerada demais para permitir pausas para reflexão. "Assumimos com uma inflação de 6% e a necessidade de cortar R$ 50 bilhões do Orçamento. Compramos a briga com os parlamentares e mergulhamos na guerra cambial. Protegemos a nossa economia e o Palocci (Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil) foi obrigado a pedir demissão. Cai o principal ministro e, dois meses depois, enfrentamos essa sucessão de exonerações e demissões", afirma o interlocutor, em um fôlego só.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), criador de uma frente anticorrupção que se reunirá na próxima terça com entidades como a OAB, a CNBB e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Dilma está fazendo o que precisa, ao tomar cuidado com as nomeações no setor público e afastar quem não se comporta dentro dos princípios éticos. "Fiz várias denúncias a Fernando Henrique Cardoso e a Lula, mas eles não ligavam. Temos que iniciar um movimento pela ética semelhante ao das Diretas Já", convocou Simon.
Espremido entre a defesa da presidente e a necessidade de não melindrar os partidos aliados, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), evita adotar o termo faxina. "O governo enfrentou problemas reais e deu as respostas à medida que as coisas foram acontecendo", disse ele.
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