sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Pensamento de um Democrata/Republicano

Vi hoje um pobre homem condenado a 17 anos de prisão. Claro que ele errou, mas entender que ele, junto com outros em condição intelectual parecida, estaria, em sã consciência, tentando dar um golpe de estado, me parece uma demasia.

Lembrei-me do PT que, por 20 anos, enfrentei no Congresso: nunca fez baderna, ele próprio ou algum braço seu, no Congresso Nacional? Nunca armou quebra-quebra nas ruas do Brasil e, lamentavelmente, na Esplanada dos Ministérios? E a passeata dos "100 mil", que a verdade reduziu a 30 mil pessoas, exigindo o fora "FHC", sem ter nenhuma razão palpável para esboçar esse gesto?

O Supremo tem a sua soberania, que acato, mas nada me obriga a concordar com o que foi decidido hoje, ontem ou será decidido amanhã. Poder forte é o que não abafa opiniões. É o que ensina bastante, mas que aprende um pouco também.

É o que não permite que invadam suas prerrogativas e, ao mesmo tempo, jamais seria capaz de avançar sobre os direitos dos demais poderes.

Voltemos ao "golpe" que umas poucas pessoas teriam tentado impor ao Brasil. Puni-las pelas badernas, sim. Descartar que, entre elas houvesse pessoas, externas ao movimento, não considero sábio. Afinal, nas câmeras que registraram a barbárie, aparece o general G.Dias, que não sofreu punição nenhuma, orientando e até servindo água a baderneiros a sobre como se mexer aqui, ali ou acolá, em pleno Palácio do Planalto. Há registro de "infiltrados" processados e a caminho da punição? As câmeras fundamentais do Ministério da Justiça, que certamente foram apagadas, haviam sido exigidas pelo Relator, no STF, Ministro Alexandre de Moraes, que não foi obedecido pelo Ministro Dino.

Muita gente errou nesse triste episódio. O Exército, que se reafirmou como legalista, deveria ter impedido os acampamentos nos Portões dos seus quartéis. Só isso já desarticularia, em grande parte, os eventos do '8 de janeiro'; G.Dias, que empregou um filho cerca de 30 dias após o episódio, no governo atual, conseguiu adulterar documento da ABIN e foi duramente criticado pelo seu número II, no GSI.

Lula, óbvio, sabia de tudo. Pretextou compromisso em Araraquara e fugiu da cena do crime. Mas afirmo ser impossível, e digo isso por experiência própria: fui Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência, nomeado por FHC, e nada relevante escapava ao nosso controle: greves sendo programadas, as "artes" do PT, para oferecer dois exemplos apenas.

Então chega a ser pueril, alguém fingir que acredita que Lula, pela milésima vez, 'não sabia'. Governo desmobilizou a Guarda Presidencial, a Guarda Nacional foi impedida de agir, jogaram a culpa para o governador do DF, Ibaneis Rocha, que não contava com ABIN nem GSI, sabendo que o maior omisso desse jogo torpe foi Lula, seguido por seus acólitos.

Não havia a menor condição de alguém submeter o país a um golpe de estado. Os esfarrapados, com ou sem infiltrados incitadores, que possibilidade teriam de  vencer as Forças Armadas? Como se pode crer nesse absurdo? Golpe de estado eu vi em 1964 e o senti com muita dor, quando minha casa foi invadida pela Polícia Política do então Estado da Guanabara. Minha mãe foi humilhada. Meu pai, Senador Arthur Virgilio Filho reagiu à ditadura até ser cassado pelo odiento Ato Institucional número 5. Dei 20 anos de minha vida à luta contra a ditadura militar.

São dores que a gente perdoa, mas não esquece.

Vi muito disse-me-disse, na mídia, sobre uma discordância, que virou debate - e o debate é o sal da terra - entre os Ministros Alexandre de Moraes e André Mendonça. Anormal? Nunca viram Eros Grau e Barbosa, Gilmar Mendes e Barroso? Ou existiria uma cartilha do pensamento único? Afinal, quem tem ideias deve estar sempre pronto para, se contestado, defendê-las com vigor e lucidez.

O debate não só é positivo, como é necessário, porque ninguém debate nos cemitérios. Um traz a tese, o outro rebate com a antítese e o resultado ideal é se desaguar numa síntese justa.

Finalizo como cristão, pregando mais sensibilidade e menos intolerância. Houve crime? Que se os puna, então, porém do tamanho do delito cometido. As atitudes foram antidemocráticas? Claro que sim. Mas que não as confundamos com golpe de estado, porque, simplesmente, não havia a menor condição de consuma-lo, sobretudo com as Forças Armadas legalistas que temos ... e que aprenderam muito bem a amarga lição que receberam , por terem apoiado os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Guanabara, que rasgaram a Carta Constitucional de 1946 e, por cima até desses três governadores assumiram, diretamente, a tarefa de esmagar as liberdades neste país.

Entenderam o erro histórico que cometeram e, hoje, são invencível muralha contra quaisquer aventureiros que delirem contar com as Forças Armadas para golpear a democracia.

Que Deus ilumine as decisões a serem tomadas contra badernas, afastando confundi-las com golpe de estado!

Fonte: Blog do Arthur Virgílio

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