quarta-feira, 26 de julho de 2017

Crivella e Paes trocam acusações sobre administração do Rio


Ex-prefeito acusa o atual de ser mentiroso; Crivella diz que recebeu herança financeira ‘extremamente difícil’

O prefeito Marcelo Crivella e o ex-prefeito Eduardo Paes FOTOMONTAGEM

RIO - Marcelo Crivella e Eduardo Paes trocaram ataques em textos publicados na edição desta terça-feira de O GLOBO e na internet. No artigo “Rio sem maquiagem”, o atual prefeito do Rio afirmou que herdou uma “situação financeira extremamente difícil, com déficit de R$ 3,8 bilhões”. Em resposta, Paes rebateu as críticas afirmando que “mais uma vez o prefeito tenta justificar sua incapacidade administrativa responsabilizando e atacando” a sua gestão. Enquanto Crivella listou algumas realizações dos sete primeiros meses de sua gestão, como a renovação da Operação Centro Presente e a reabertura do Restaurante Popular de Campo Grande, Paes ironizou os feitos e atacou o sucessor: disse que é mentira a afirmação de que a atual gestão reduziu em 27,5% o tempo de espera para consultas na rede pública de saúde.

Esta não é a primeira vez em que há uma polêmica entre os dois políticos. Os dois tiveram um embate em abril. Na ocasião, a cerimônia dedicada aos cem dias de governo do atual prefeito Marcelo Crivella acirrou a polêmica entre a atual administração e a gestão de Eduardo Paes. Isso porque Crivella apresentou estudo feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP) que mostra a dificuldade de caixa do município, que levará a um contingenciamento de R$ 3,2 bilhões nas despesas de custeio e capital. Paes, na época, também partiu para o ataque, afirmando que o atual prefeito “dá desculpas para explicar sua incompetência e preguiça” e rebateu na sua conta no Instagram os dados apresentados.

Em seu artigo publicado nesta terça-feira, Crivella lista as dificuldades enfrentadas pela sua gestão. Entre elas, afirma que “o cancelamento de meio bilhão de empenho de material entregue, serviços prestados e obras feitas deixou a situação ainda mais delicada”. O atual prefeito diz que foi forçado a tomar “medidas drásticas, como a redução de 25% do valor dos contratos com fornecedores, o corte do número de secretarias, de 35 para 11, e de 1.500 cargos políticos”.

Em resposta, o peemedebista se defendeu alegando que a conclusão a respeito do cancelamento de empenhos foi de uma auditoria criada pela administração Crivella com “objetivos claramente políticos”. “Como se não bastasse isso, as contas de meu último ano de governo foram recentemente aprovadas por unanimidade pelo Tribunal de Contas do Município”, afirmou Paes. O ex-prefeito ainda alfinetou o político do PRB afirmando que “o prefeito precisa mesmo é montar time, acordar mais cedo, trabalhar mais, ter mais gestão e olhar para frente. O Rio precisa muito disso!”.

PAES CHAMA CRIVELLA DE MENTIROSO

Crivella mencionou as realizações da sua gestão. No primeiro semestre de 2017, de acordo com o prefeito, houve redução de 27,5% o tempo de espera para consultas. "Só nos cinco primeiros meses do ano, foram realizadas mais 20 mil cirurgias, 10% a mais do que no mesmo período do ano passado", escreveu o prefeito do Rio.

Eduardo Paes, neste ponto, partiu para o confronto direto. Chamou o atual prefeito de mentiroso. "Mentira pura! Só isso! Na saúde o que ele diminuiu mesmo foi o orçamento. Cerca de R$ 100 milhões (prometeu colocar R$ 250 milhões a mais por ano durante sua campanha) já foram retirados do orçamento de uma área tão vital para o município e para a população", disparou Paes.

A retomada das obras do BRT Transbrasil, corredor de ônibus articulados que passará pela Avenida Brasil, também foi um ponto de discordância entre os dois. Enquanto o atual chefe do executivo carioca celebra a retomada das obras, interrompidas para a realização da Olimpíada do ano passado, Paes se defendeu alegando que as obras foram paralisadas porque ele, então prefeito, se "recusou a conceder o reajuste e o aditivo solicitado pelos empreiteiros da obra".

CENTRO PRESENTE E RESTAURANTES POPULARES

Até a parceria do município com a Fecomércio-RJ na Operação Centro Presente, iniciada em 2016, entrou na disputa entre os políticos. "Também renovamos com a Fecomércio-RJ o contrato de R$ 41 milhões para a continuação". A integração entre a Guarda Municipal e a Polícia Militar, que segundo Crivella coibiu arrastões nas praias cariocas durante o último verão, também foi mencionada no artigo "Rio sem maquiagem".

Em ataque direto, Paes classificou como "patética" a informação. "O mais patético do prefeito escriba é quando ele faz referência a grande parceria na área de segurança pública entre a PM e a Guarda Municipal. Passou a campanha inteira, a transição(que ele não fez) e o início de seu governo dizendo que como prefeito ia entrar forte na segurança pública. O resultado está aí, nas ruas, todo dia, toda hora..... Não se pode - como sempre defendi - responsabilizá-lo pela tragédia na segurança pública mas é de impressionar a cara-de-pau ao fazer qualquer referência a realizações nessa área", publicou Paes, fazendo questão de mencionar o início da parceria no Centro Presente: "Renovou com a Fecomércio-RJ o Centro Presente iniciado em nossa gestão".

O início dos estudos para a instalação de 450 mil lâmpadas de LED, "que vai gerar economia e contribuir para a sensação de segurança na cidade", também foi lembrado no artigo. Paes, por sua vez, ironizou o fato de a prefeitura apenas ter iniciado os estudos para a instalação das lâmpadas de LED após sete meses, e disse ter deixado licitação da PPP sobre o assunto pronta.

O ex-prefeito seguiu rebatendo ponto a ponto as afirmações de Crivella. Municipalizados no ano passado com o agravamento da crise financeira do Palácio Guanabara, os restaurantes populares também foram lembrados. "Reabrimos o Restaurante Popular de Campo grande e, até o fim do ano, vamos reinaugurar os de Bonsucesso e Bangu. Os três garantirão boa alimentação à população de baixa renda, 176 mil refeições por mês", defende Crivella.

O ex-prefeito criticou a demora para a reabertura dos restaurantes populares: "Um ano para reabrir três restaurantes populares?", perguntou Paes, que em outro momento questionou as realizações feitas até aqui pela atual gestão municipal: “É inacreditável, nesse caso, que depois de sete meses de administração ele não consiga apontar uma realização concreta e nós não consigamos sequer nos lembrar de ao menos uma ideia (repito, uma ideia) que o governo tenha apresentado”.

'MAIOR RECESSÃO DA HISTÓRIA'

A polêmica atuação de agentes municipais frente ao comércio ambulante também foi defendida por Marcelo Crivella, que afirmou ordenar o comércio ambulante, mas reconheceu que "os 450 mil desempregados precisam sobreviver". Segundo ele, "buscar o equilíbrio entre esses dois fatotes é estar atento ao nosso grave quadro social" na "maior recessão da nossa história".

A informação de que a atual gestão municipal enfrenta hoje a maior recessão da história do país não é verdadeira, rebateu Paes. Hoje no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o ex-prefeito do Rio disse que a maior recessão da história pegou os dois últimos anos do seu governo. "Esse ano a economia voltou a crescer (pouco) e a inflação é baixa. Mesmo com as dificuldades de 2015 e 2016 não deixamos de dar reajuste aos servidores, tocar e concluir todas as nossas obras, abrir novas escolas e clinicas, assumir dois hospitais do Estado e as Bibliotecas Parque, emprestar dinheiro ao Estado... E entregar uma Olimpíada de enorme sucesso", publicou Paes em sua conta no Facebook, criticando a gestão da Ordem Pública: "o prefeito busca justificar a desordem e o caos que toma conta da cidade (e isso contribui muito para a violência) utilizando-se dessa recessão. Não entendeu o básico: é possível encontrar alternativas ao desemprego sem que isso signifique a geração de deseconomias que vão trazer ainda mais desemprego".

Em outro ponto, Crivella disse que sensível as dificuldades econômicas e ao grande número de desempregados, impediu o aumento das passagens de ônibus até que uma auditoria seja feita nas empresas. "As obras desse governo serão destinadas a quem mais precisa. Após lançarmos o Procedimento de Manifestação de Interesse, 12 empresas formalizaram a intenção de realizar os projetos de urbanização da comunidade de Rio das Pedras, onde será feita uma PPP", afirmou o prefeito, acrescentando que conheceu, durante sua viagem na Rússia, modelos "bem-sucedidos" para o Centro do Rio. A ideia da prefeitura é construir, com financiamento da Caixa, unidades do Minha Casa, Minha Vida na região do Porto Maravilha.

O ex-prefeito, porém, publicou que o Bilhete Único custa R$ 3,80, o mesmo valor praticado em São Paulo. "Só que lá a prefeitura entrega às empresas de ônibus todo ano cerca de R$3 bi. Aqui não entregamos nada. O alcaide esqueceu de dizer que a integração com os trens acabou e que diversos benefícios concedidos aos estudantes foram suspensos". "As grandes intervenções ainda estão na fase de Manifestação de Interesse e o exemplo usado pelo prefeito é o capitalismo Russo. Não precisa nem comentar não é mesmo?", ironizou Paes.

SUBVENÇÃO PARA O CARNAVAL

Já no turismo, Crivella disse que garantiu o repasse de R$ 13 milhões para as escolas de samba, a ser pago até novembro. Este ponto foi duramente criticado pelo ex-prefeito. "Evitei fazer qualquer comentário para não politizar a luta do mundo do samba, mas foi aí talvez o momento em que o prefeito mais mostrou sua incompreensão e desconhecimento em relação a cidade que ele governa. Colocar a população contra o carnaval, dizendo que vai tirar do samba para colocar na educação é de uma covardia histórica. Para se ter uma ideia, a educação tem um orçamento de mais de R$ 6 bilhões e estávamos falando de cerca de R$ 10 milhões no carnaval. Tirando o aspecto lúdico, de lazer e cultural do carnaval, o prefeito também não entendeu a importância econômica da festa e seus impactos no turismo e o que significa no imaginário mundial o carnaval carioca", rebateu paes.

Marcelo Crivella encerrou o seu artigo alfinetando o político do PMDB, aliado do ex-governador Sérgio Cabral. "Seguiremos enfrentando os desafios com austeridade e responsabilidade, sem Lava-Jato e sem propina, mas com fé e esperança, compromissos de uma gestão humana e voltada, sobretudo, a cuidar das pessoas", disse.

Eduardo Paes também não perdeu a oportunidade de alfinetar o atual prefeito. "Quanto a despedida do artigo em que ele afirma 'seguir em frente sem Lava-jato e propina', é bom que seja assim mesmo. Aliás, não existe em relação ao nosso programa de investimentos de mais de R$ 37 bilhões qualquer denúncia de corrupção ou propina em qualquer obra durante minha gestão. O que o Prefeito precisa mesmo é montar time, acordar mais cedo, trabalhar mais, ter mais gestão e olhar para frente. O Rio precisa muito disso!", afirmou.

"O globo"

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