terça-feira, 20 de junho de 2017

Fera ferida, Janot ataca. É o cara que ressuscitou o PT e concedeu a liberdade a Joesley

Janot está perdendo o juízo e o senso de ridículo. Apostou alto na sua recondução ao cargo. Se a Blitzkrieg tivesse dado certo, ele se imporia como solução de continuidade e “estabilidade” ao próximo mandatário. Mas deu errado.

Por: Reinaldo Azevedo

Publicada: 20/06/2017 - 0:18

É, meus caros, é quando as feras estão feridas que elas são mais perigosas. É o caso de Rodrigo Janot. Não dá para associá-lo a um leopardo ou a algum outro felino. Mas a natureza esconde feras às vezes insuspeitadas. Poucos sabem, mas o maior assassino de humanos na natureza é o hipopótamo. Tem aquele ar aparentemente abestado, inofensivo quase. Mas quê… Quando abre aquela bocarra, expõe presas destruidoras.

“Está comparando o procurador-geral da República com um hipopótamo, Reinaldo?” Não! Mas ferido ele está, inclusive na sua vaidade. E agora decidiu nos tratar a todos como jumentos ou como ruminantes. Aquele que tem a obrigação funcional e moral da ponderação — afinal, o órgão que comanda detém o poder da investigação (até hoje, arrancado no berro, sem previsão constitucional) e da denúncia. Não, eu não o comparo com um hipopótamo, mas é fato que sua mordida é poderosa. Especialmente num momento em que políticos se acovardam e em que setores da imprensa decidem endossar métodos típicos de Estado policial.

O doutor decidiu agora, como naquela música de Fábio Junior, dividir o mundo em duas metades da laranja. Mas, à diferença das “duas forças que se atraem” e do “sonho lindo de viver”, o que se tem, na mente de Janot, são forças antagônicas, que se repelem: na sua cabeça, há “os inimigos da Lava Jato” e os “amigos”. Os segundos endossam tudo o que fazem o procurador-geral e seus menudos de faces rosadas e ternos escuros; os primeiros, bem…, o doutor não reconhece matizes: seriam todos sócios da lambança.

Na abertura, nesta segunda, de um seminário no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em Brasília, o procurador-geral mostrou as presas. Disse:
“Basta de hipocrisia! Não há mais espaço para a apatia. Ou caminhamos juntos contra essa vilania que abastarda a política ou estaremos condenados a uma eterna cidadania de segunda classe, servil e impotente contra aqueles que deveriam nos representar com lealdade”!

É discurso de político, não de procurador-geral. E digo mais: esse sotaque é tipicamente fascistoide. E serve a fascistas de esquerda ou de direita. Sempre que alguém vem com esse papo de “chega de hipocrisia!”, podem acreditar: está querendo endosso a algum ato truculento ou está fazendo tabula rasa de diferenças relevantes. Aliás, lá vamos nós para o extremo da abjeção, mas é preciso que se diga. Os nazistas costumavam pedir o “fim da hipocrisia” ao perseguir judeus. Afinal, eram ou não eram os “banqueiros da bancarrota” da República de Weimar? Integravam ou não o establishment de algumas das instituições mais importantes da Alemanha falida? Então, chega de hipocrisia e Holocausto para eles!  “Está comparando Janot com um nazista, Reinaldo?” Não! Estou cobrando que ele não discurse como se fosse um.

Igualmente políticas tem sido as falas de todos os procuradores. Para o procurador-geral, hipócritas são todos os seus críticos e todos aqueles que não adotam a sua agenda e os seus métodos. E esses tais hipócritas, por sua vez, se dividiriam em dois grupos. Disse ele:
“Há pessoas que acusam o Ministério Público e a Lava Jato de abuso. Afirmam que o Brasil está se tornando um Estado policial de exceção. Só dois tipos de pessoas adotam e acolhem esse discurso. Os primeiros nunca viveram em uma ditadura. Eu vivi. Não conhecem, por experiência própria, o que representa uma vida sem liberdade; militam, portanto, na ignorância”. Já os outros, segundo disse, são “os que não têm compromisso verdadeiro com o país. A real preocupação dessas pessoas é com a casta privilegiada da qual fazem parte”.

Então vamos tirar o procurador-geral para uma contradança argumentativa. O homem que deu passe livre e carimbou um “nada consta” na biografia de Joesley Batista vem falar de pessoas que seriam críticas da Lava Jato porque comporiam uma casta privilegiada? Com a devida vênia, doutor, lave essa bocarra! O senhor não tem moral para posar de verdugo dos poderosos. Não quando a gente olha a pena que pegaram alguns dos maiores criminosos do país  Aliás, não precisamos de verdugos. Queremos pessoas públicas que honrem as leis da democracia e do Estado de Direito.

Em segundo lugar, que papo é esse de herói contra a ditadura? O senhor??? Eu, que sou cinco anos MENOS VELHO do que a excelência com vocação para santidade e que efetivamente combati a ditadura; que tive problema “com uzômi” aos 16 anos; que levei porrada da polícia, bem, eu não me lembro de nenhum paladino da justiça chamado Rodrigo Janot. Combateu a ditadura com quem? Em que lugar? Na companhia de quais pessoas? Participou de quais eventos importantes da luta pela restauração da democracia?

Janot está perdendo o juízo e o senso de ridículo. Apostou alto na sua recondução ao cargo. Se a Blitzkrieg tivesse dado certo, ele se imporia como solução de continuidade e “estabilidade” ao próximo mandatário. Mas deu errado. Agora, o que ele quer é alimentar teorias conspiratórias na esperança de emplacar a candidatura de Nicolao Dino, o único que aceitou uma semiadoção, que vai disputar a eleição para a lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). O presidente da República não é obrigado a indicar nenhum dos três.

Janot vai deixar a PGR, e a luta contra a corrupção vai continuar. E que se torne mais forte do que antes. E ela será tanto mais eficaz quanto mais respeitar a lei.

O homem que garantiu a Joesley a vida de um cidadão de bem não tem nada a cobrar de ninguém.

De resto, lembro dois críticos dos desmandos — e não das virtudes — do MPF: Reinaldo Azevedo e o ministro Gilmar Mendes. O primeiro viu uma conversa com uma fonte ser covardemente usada na guerra política. O tiro saiu pela culatra. O outro, ora vejam, é acusado de crime de responsabilidade por aliados de Janot. Dará errado também.

O fim melancólico de Janot é a derrota de quem, contando com todas as faculdades do Estado de Direito para fazer a coisa certa, preferiu, por excesso de ambição, recorrer a instrumentos do arbítrio para fazer a coisa errada.

Um Joesley impune é a sua obra-prima, junto com o PT ressuscitado.

Infelizmente, embalada por picaretas, mistificadores e especuladores, parte dos conservadores, da direita, do pensamento antipetista colaborou para essa patuscada.

Vamos ver como saímos agora do enrosco.

"Blogger do Reinaldo Azevedo"

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