domingo, 21 de maio de 2017

Me engana que eu posto


A verdade por trás de manchetes falsas que se espalham pela internet. Editado por João Pedroso de Campos.

Tiririca não ‘desabafou’ sobre salário e verbas de deputados

Notícia falsa que circula no WhatsApp enumera rubricas inexistentes, como "Auxílio-paletó", e inventa valores dos benefícios às excelências da Câmara

Por João Pedroso de Campos

16 mar 2017, 14h35 - Atualizado em 16 mar 2017, 14h51

O folclórico deputado federal Tiririca (PR-SP), em seu segundo mandato na Câmara, é protagonista de uma notícia falsa que circula no WhatsApp.

Conhecido por seu bordão “pior do que está não fica”, o palhaço teria “desabafado”, segundo os criadores da lorota, a respeito do nababesco valor de 302.300 reais supostamente recebido pelos deputados mensalmente, entre salário e outras verbas.

Diz o conteúdo espalhado pelo aplicativo de mensagens:

Tiririca desabafa Vc sáb qual é o meu salário abstado..
E o Deputado Federal?
R$ 26.700,00 (Salário)
R$ 94.300,00 (Verba de Gabinete)
R$ 53.400,00 (Auxílio Paletó)
R$ 5.000,00 (Combustível)
R$ 22.000,00 (Auxílio Moradia)
R$ 59.000,00 (Passagens Aéreas)
R$   (Auxílio Saúde)
R$ 12.100,00 (Auxílio Educação)
R$ 16.400,00 (Auxílio Restaurante)
R$ 13.400,00 (Auxílio Cultural)
Auxílio Dentista
Auxílio Farmácia
E outros, para LASCAR a vida dos outros! E o trabalhador R$ 937,00 para sustentar a família. Será que o problema do Brasil são os aposentados?

Além dos erros de ortografia, obrigatórios em qualquer notícia falsa que se preze, o suposto desabafo de Tiririca não para em pé diante de uma simples busca nos dispositivos da Câmara que preveem a remuneração dos deputados e as verbas à disposição de seus mandatos.

Para começo de conversa, os tópicos “Auxílio Educação”, no suposto valor de 12.100 reais, “Auxílio Cultural”, de 13.400 reais, e “Auxílio Paletó”, de 53.400 reais, simplesmente não existem. Não há sinal deles entre os benefícios aos parlamentares.

Quanto ao salário de deputado federal, o valor é, na realidade, de 33.763 reais – maior, portanto, que os 26.700 reais citados no “desabafo”. A informação pode ser acessada aqui, onde é possível consultar os contracheques dos deputados.

De acordo com o registro mais recente, de janeiro, Tiririca recebeu 25.010,63 reais líquidos (veja abaixo), após descontos de 608,44 reais de contribuição previdenciária e 8.143,87 reais de Imposto de Renda.

A verba de gabinete, rubrica destinada ao pagamento de salários de assessores e servidores do mandato parlamentar, também é maior na realidade do que os 94.300 reais enunciados na mentira criada para indignar incautos. A quantia mensal exata é de 97.116,13 reais.

Quanto a “combustível”, cujo valor seria de 5.000 reais, “passagens aéreas”, que custariam 59.000 reais, e “Auxílio restaurante”, no suposto valor de 16.400 reais, a realidade também se mostra diferente. Todos esses itens estão incluídos na Cota Parlamentar, quantia fixa para custeio do mandato que varia de estado para estado, em função do preço das passagens aéreas partindo de Brasília.

A cota mais cara, por exemplo, é paga a parlamentares de Roraima, que podem gastar até 45.612,53 reais; a mais barata é a do Distrito Federal, 30.788,66 reais. No caso de um deputado paulista, como é Tiririca, a cifra é de 37.043,53 reais.

O “Auxílio-Moradia” citado na notícia falsa existe sob essa mesma denominação. O montante, no entanto, não chega nem perto dos 22.000 reais ali citados. O auxílio moradia, cujo valor máximo é de 4.253 reais, é pago a excelências que não ocupam apartamentos funcionais.

Aos parlamentares nesta condição, o dinheiro é pago em espécie ou reembolsado, contanto, neste caso, que sejam apresentados recibos emitidos pelo locador do imóvel ou notas fiscais do hotel (apenas diárias, sem alimentação, bebidas e lavanderia).

Já “Auxílio Saúde”, “Auxílio Dentista” e “Auxílio Farmácia”, enumerados no falso desabafo sem nenhuma quantia fantasiosa, se relacionariam às despesas médicas e odontológicas na rede privada pelas quais os parlamentares (apenas eles, familiares não) podem ser reembolsados.

Os deputados também têm à sua disposição atendimento médico no Departamento Médico da Câmara (Demed). Neste caso, seus dependentes incluídos no Imposto de Renda também têm acesso ao benefício.

Ainda há a opção de o deputado pagar 322 reais para se associar ao Pró-Saúde, programa de assistência à saúde da Câmara, que tem cobertura familiar.

Caso Tiririca recebesse todos os valores a que teria direito em salário, verba de gabinete, cota parlamentar e auxílio moradia, excluindo possíveis reembolsos de despesas médicas, para ficar apenas nos benefícios citados na notícia falsa, o máximo que a Câmara gastaria com ele seriam 172.175,66 reais.

É um valor alto, mas, ainda assim, menor que os 302.300 reais mencionados no desabafo fictício.

"Veja"

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