“No mesmo dia em que minha filha saiu de casa, minha mãe enlouqueceu. Era um sábado. Mamãe enlouqueceu num sábado de manhã.”
O relato, franco e direto, é de uma mulher de meia-idade relembrando os primeiros sinais do mal de Alzheimer que acometera sua mãe.
Luciana Whitaker/ Folhapress | ||
A partir da esq., Camilla Amado, Laila Zaid e Clarice Niskier em ensaio da peça “O Lugar Escuro”, de Heloisa Seixas |
Ele é o ponto de partida de “O Lugar Escuro”, peça de Heloisa Seixas baseada em seu livro homônimo, que estreia nesta sexta-feira (4), no Rio.
O espetáculo mostra o impacto da doença degenerativa sobre as relações familiares, a partir da experiência real da autora.
“Escrevi o livro sem saber se publicaria, então tem muita franqueza, eu falava da minha raiva, das minhas terríveis dificuldades em lidar com minha mãe, foi uma coisa de catarse”, diz Heloisa.
O estilo e o tema do livro, lançado em 2007, fizeram com que houvesse “uma grande identificação das pessoas com ele”, segundo a autora, o que a incentivou a adaptá-lo para o palco.
“Eu imaginei que, quando toda aquela problemática tomasse corpo através da encenação, isso ganharia ainda mais força.”
PERSONAGENS
Em cena, três personagens –a velha (vivida por Camilla Amado), a mulher (Clarice Niskier) e a jovem (Laila Zaid)– representam a autora, sua mãe e sua filha.
A montagem, dirigida por André Paes Leme, mostra as dificuldades da convivência com uma pessoa que vai perdendo a lucidez –os esquecimentos, os acidentes, a irritação–, mas trata principalmente do impacto que isso causa na filha e na neta.
“A peça não é apenas sobre o Alzheimer. É sobre relações familiares, as dificuldades de relação entre mãe e filha, o ciúme entre irmãos e também sobre a loucura de escrever”, diz Heloisa.
Diferentemente do que o tema pode sugerir, os envolvidos afirmam que a peça não tem um tom depressivo -há momentos de humor e de singeleza, o que a atriz Camilla Amado descreve como “um documentário alegre”.
“É uma peça sobre o amor, em todos os seus prismas. Não podemos oferecer um drama ao público que já vive esse drama. Temos de oferecer um consolo”, diz a atriz.
“Não gostaria que alguém saísse pensando ‘nossa, se minha mãe tiver Alzheimer, ferrou’”, diz o diretor, André Paes Leme. “O tom é de superação de tristeza.”
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