Cassado pelos colegas ainda em 2005, o falastrão, polêmico e performático Roberto Jefferson não dá mais as cartas. Nem em Brasília, nem em Petrópolis, sua terra natal, onde mantém domicílio eleitoral.
Foto: D Ferreira / Agência O Estado
Foto: D Ferreira / Agência O Estado
Na última quinta-feira, equipe de O DIA quis ouvir o ex-deputado, condenado na semana passada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a sete anos de prisão. Mas no tradicional bairro Valparaíso, em Petrópolis, vizinhos contam que ele raramente aparece no casarão localizado no nº 37 da Rua Ernesto Paixão.

O homem que fez a capital federal estremecer há sete anos não perdeu o gosto pelo poder. Só que seu reinado, atualmente, se restringe ao pequeno município de Comendador Levy Gasparian, ex-distrito de Três Rios, no Centro-Sul fluminense, com menos de 10 mil habitantes.

“Ele é um homem bom. Mas quando está dormindo, né?”, provoca um dos vizinhos, para depois mudar o tom e pedir anonimato. “Ah, é para reportagem? Então pode colocar aí que ele é bom de verdade, que todo o mundo adora ele (risos). Mas uma coisa tem de ser dita: ele é simpático, fala com todo o mundo e pergunta como vai a vida. É acessível. Bate lá na casa dele, que ele atende a todo o mundo”, orientou o vizinho.

Escondido no interior

dica foi boa, mas não surtiu efeito. Após saber pelo caseiro da presença de O DIA, foi possível ouvir de longe os gritos do ex-deputado, repreendendo o funcionário. Sem querer ser incomodado, Jefferson vestiu uma camisa do Botafogo, colocou boné, óculos escuros, entrou em sua picape e saiu em disparada pelas ruas do vilarejo. Isso tudo após sair de uma sessão de quimioterapia. O ex-deputado sofre de câncer.

“Você está surpreso? Ele é completamente maluco. É muito doido mesmo”, disse um petropolitano amigo da família e que frequenta a casa do ex-deputado.

VIVA VOZ: Adilson Alves, comerciante, vizinho de Jefferson

“O deputado Roberto Jefferson, pelo menos para nós, aqui de Levy Gasparian, é uma pessoa muito boa. Já é de casa. É muito difícil a gente julgar sem saber o que, de fato, aconteceu e apenas com o que passa na televisão, em relação a esse negócio de Mensalão.

Ele anda na rua, dá dinheiro ao povo, às pessoas mais pobres. Já veio aqui no meu bar várias vezes, conversa com a gente, fala sobre o Botafogo e tudo. Ele tem estado meio quieto, mas dá para entender. Tem o problema do câncer. Ele comentou que teve de levar mais de 500 pontos no pâncreas e nos rins. E depois dessa condenação aí, não dá para ficar feliz. Mas tenho ele como um cara bom e carismático”.

Uma vida sempre sob suspeita

Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense e professora da PUC, a petropolitana Eunícia Fernandes lembra que a suspeição sempre foi uma marca de Roberto Jefferson e sua família.

“Muito embora ele seja filho de um professor respeitado na cidade (Roberto Francisco), eles criaram um colégio, o EPA, que dividia a cidade nos anos 90. Muitos pensavam se tratar de uma escola inovadora, moderna, mas todos questionavam de onde vinha tanto dinheiro”, conta.
A praça em Levy Gasparian, onde Jefferson distribui dinheiro e tem casa de dois quarteirões | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
A praça em Levy Gasparian, onde Jefferson distribui dinheiro e tem casa de dois quarteirões | Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Eunícia considera o julgamento do Mensalão uma vitória da sociedade brasileira como um todo, mas descarta veementemente qualquer tipo de mérito a Jefferson.

“Sua intenção foi levar o PT para a lama junto com ele, mas sua aposta sempre foi na impunidade, que era o que sempre acontecia no Brasil. Ele jamais imaginou que seria condenado à prisão”, avalia.

Petropolitanos torcem o nariz para o filho famoso

Roberto Jefferson nasceu em Petrópolis e mantém na cidade da Região Serrana o seu domicílio eleitoral. Mas engana-se quem pensa que os petropolitanos acolhem o ex-deputado de braços abertos.

“Ele é daqui, mas seu reduto eleitoral, não. Ele tem a carreira política marcada pelo fisiologismo e demagogia, por estar sempre perto do poder, seja lá quem estiver no poder. E os petropolitanos não aceitam muito isso. Os votos dele vêm de cidades menores, como Areal, Paraíba do Sul, São José do Vale do Rio Preto e Levy Gasparian”, explica o médico Cláudio Vinícius, vereador pelo PDT.

Na eleição de 2002, Roberto Jefferson teve 40 mil votos, sendo que apenas 10% deles em Petrópolis. Antes do escândalo do Mensalão, Jefferson havia se notabilizado como o “advogado dos pobres” no extinto programa “O Povo na TV”, exibido no início dos anos 80 pela antiga TVS (hoje SBT).

O comerciante Wellinton Macedo lembra que a popularidade de Roberto Jefferson em Petrópolis começou a cair há mais 20 anos, quando o ex-deputado era o fiel escudeiro do ex-presidente Fernando Collor, que sofreu impeachment por corrupção.

“Em 1989, na campanha do Collor, eles desfilaram em carro aberto no Centro e tinha muita gente fazendo campanha para o Lula e o Brizola nas ruas. Foi um tal de ovo e até pedra para cima do Jefferson e do Collor, que deixaram a cidade pela porta dos fundos”, conta o comerciante.

Se Roberto Jefferson pensava que sairia da política como herói, após denunciar o Mensalão, pelo menos em sua cidade natal, se enganou.

“Ele acabou tendo um papel importante, mas tão corrupto quanto os outros”, completa o vereador Cláudio Vinicius.

O Dia