Em Itaguaí, prefeito da Ferrari amarela tem o mandato cassado pela Câmara Municipal / OGlobo
/ RIO — Afastado da prefeitura de Itaguaí por determinação da Justiça
Federal em março passado, Luciano Mota teve o mandato de prefeito
cassado na noite desta quarta-feira, por 14 votos a um. O motivo foi a
construção de uma ponte sem licitação, que custou quase o dobro do
previsto e foi erguida a 9km de distância do lugar inicial. A sessão
extraordinária começou com 12 dos 17 vereadores, mas logo em seguida o
número chegou a 15. Os únicos ausentes foram Silas Cabral e Jorge Luiz
Rocha, ambos do PV.
A Câmara de Itaguaí lotada durante a sessão
desta quarta-feira - Sérgio Ramalho / O Globo A cassação foi decidida
em pleno recesso, três dias após O GLOBO ter revelado que duas comissões
instauradas para apurar irregularidades na gestão de Mota já tinham
sido paralisadas na Casa. Numa delas, nove dos 17 integrantes do
Legislativo municipal chegaram a recorrer à Justiça, para obstruir a
investigação relacionada à suspeita de fraudes em licitações e
enriquecimento ilícito de Mota, que ficou conhecido na cidade como o
"prefeito da Ferrari amarela".
Horas antes do início da sessão, a
rua da Câmara foi fechada. Faltando uma hora, o plenário ficou lotado
de manifestantes. Ao som de "Pra não dizer que não falei de flores", de
Geraldo Vandré, dezenas de pessoas exigiram a cassação do prefeito.
Manifestantes aguardam início da sessão extraordinária da Câmara de
Vereadores de Itaguaí sobre cassação do prefeito Luciano Motta - Sérgio
Ramalho O processo de queda de Mota teve início em meados de 2014,
quando a Polícia Federal fez a Operação Gafanhotos, que resultou no
indiciamento do prefeito, de dois PMs que atuavam em sua segurança e
três secretários. Eles são acusados de associação criminosa, fraudes em
licitações, lavagem de dinheiro e ameaça a testemunhas. Na ocasião, a PF
chegou a pedir a prisão de Mota. Aficionado por carros, o prefeito
cassado teria comprado, em dois anos, uma Ferrari, um Porsche Panamera,
um Mercedez AMG SLS-63, uma Range Rover e um BMW X6, além de um
helicóptero. Os veículos teriam custado R$ 6 milhões.
Em um
vídeo, o ex-prefeito aparece ao lado da Ferrari amarela na qual
costumava circular pela cidade - Divulgação / Polícia Federal PONTE
CUSTOU QUASE O DOBRO DO VALOR INICIAL PREVISTO
A comissão
processante que levou à cassação do prefeito constatou que sob a gestão
de Luciano Mota a prefeitura contratou em situação de emergência, com
dispensa de licitação, a construção de uma ponte na Estrada do Mazomba. A
justificativa dada foi que a localidade havia sido alagada por fortes
chuvas no município, em março de 2014. Contudo, de acordo com o relator
da comissão, vereador Carlos Kifer, a ponte foi erguida a nove
quilômetros do local onde houve a inundação. Além disso, o custo da
obra, inicialmente orçado em R$ 961.016,76, ficou em R$ 1.624.819,18.
O relatório da comissão ressalta ainda que a construção, que deveria
ter sido concluída em 180 dias, conforme determina a lei em casos de
obras emergenciais, levou 342 dias para ser entregue. Apesar do atraso, a
prefeitura quitou o valor antes do fim dos trabalhos.
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Além do revés sofrido na câmara, onde, segundo a PF, Mota manteria uma
espécie de mensalão beneficiando 13 dos 17 integrantes da Casa, o
prefeito cassado terá que prestar esclarecimentos ao Tribunal de Contas
do Estado (TCE).
PREGÃO SUSPEITO
Luciano Mota e a
pregoeira Bruna Selberlich de Souza deverão esclarecer ao TCE o motivo
que levou a prefeitura a realizar, em 29 de outubro de 2014, pregão
presencial com registro de preço para locação de caminhões e máquinas no
valor de R$ 23,304 milhões, sem apresentar justificativa para a
pesquisa de preço feita com menos de três cotações. Além disso, o TCE
quer saber por que o pregão não foi precedido de uma ampla pesquisa de
mercado. O contrato resultante da licitação está sob a análise do
TCE-RJ, conforme consta no voto do conselheiro-relator Marco Antonio
Barbosa de Alencar, aprovado pelo Plenário na última terça-feira.
O pregão visava a atender as necessidades da Secretaria municipal de
Transportes. O TCE também notificou o ex-secretário municipal de
Transporte e Trânsito Alex de Lucena Barbosa, também indiciado pela PF,
para que apresente explicação sobre a amostra de preços fora dos
padrões.
Con Información de OGlobo
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