sábado, 28 de novembro de 2015

O jogo do bicho e o caminho torto da “moralidade” autoritária

POR FERNANDO BRITO · 28/11/2015

Em qualquer circunstância, o  livro “Os Porões da Contravenção”, de Aloy Jupiara e Chico Otávio, já seria, como disse dele o Luís Nassiff, essencial.

É a história da aliança  descrita no subtítulo, entre o poder militarizado e o crime organizado, que no Rio de Janeiro alcançou níveis explícitos e dramáticos.

O jogo do bicho sempre se prestou a explorações políticas, seja porque dava votos ou, ao contrário, quando era invocado injustamente para “queimar” políticos, como fizeram com Leonel Brizola, que proibiu as operações “quebra-caixotes” com que a polícia extorquia gerentes do bicho, perseguindo e prendendo seus humildes “apontadores” de rua. Logo ele, que enfrentou, para se eleger, o apoio expresso de Castor de Andrade e Anísio Abraão David, os dois maiores bicheiros, em 1982, a Moreira Franco, candidato do PDS e de João Figueiredo.

Mas agora, infelizmente, toma, também, outra importância, esta didática.

Ensina o mal que se faz à sociedade e às próprias instituições quando elas, por ódio político, ultrapassam os limites da lei.

Quando a ditadura recrudesceu, no final dos anos 60 e início dos 70, o jogo do bicho passou a servir à espionagem  do regime, como olhos e ouvidos em cada quarteirão da cidade e como fonte de muitos dos policiais que podiam “descobrir” o que os militares não podiam encontrar: os “subversivos”, os “esquerdistas”, os inimigos do regime.

Uma década depois, em diversos casos, os limites entre ambos tinham desaparecido. Saídos da repressão, militares agora geriam bancas de bicho.

“Eu não quero mais voltar ao quartel, não quero mais bater continência”, diziam, segundo Chico Otávio contou ao repórter Thiago Uberreich, da Jovem Pan.

Na mesma entrevista, o repórter conclui: “O bicho não tem ideologia. A ideologia dele é ficar de braços dados com o poder, seja ele de direita ou seja ele de esquerda”.

E eu peço licença para discordar – ou melhor, ampliar –  o conceito de meu bom amigo Chico Otávio, um dos melhores repórteres que já tive a honra de conhecer e invejar, profissionalmente: não é o bicho, é o dinheiro que não tem problemas em aproximar-se de qualquer governo, para preservar-se e multiplicar-se.

Mas quando governos significam ameaça, mesmo a mais leve,  ao status-quo que fez o dinheiro estar aonde está e com quem está então o dinheiro é tão cruel e impiedoso quanto qualquer banqueiro do bicho, que fora daí aparecem simpáticos, sorridentes, beneméritos…

Vou tentar comparecer ao lançamento, segunda, na Livraria da Travessa, em Botafogo. Mesmo que não possa, aí em cima fica o convite, com a garantia de quem, embora não tenha lido ainda “Os Porões…”, conhece Chico Otávio há mais de 20 anos e é testemunha da sua imensa capacidade como profissional.

TIJOLAÇO

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