Foi um conflito breve, mas cuja intensidade gerou alarme e preocupação em todo o mundo.
Em maio de 2021, o grupo militante islâmico Hamas e as Forças de Defesa de Israel travaram um confronto que durou 11 dias.
Nesse período, o primeiro lançou 4,3 mil foguetes da Faixa de Gaza para cidades e vilarejos no centro e sul de Israel, enquanto o segundo realizou cerca de 1,5 mil bombardeios aéreos no densamente povoado território palestino, segundo dados de um relatório da ONU.
As ações de Israel deixaram um saldo fatal de pelo menos 230 mortes, incluindo 130 civis; enquanto foguetes disparados por grupos palestinos mataram 13 pessoas em Israel e — por acidente — cerca de 15 palestinos em Gaza.
Um dos estopins para o conflito foram os confrontos entre a polícia israelense e os manifestantes palestinos em um local em Jerusalém sagrado para muçulmanos e judeus.
Foi nesse contexto que o Hamas começou a disparar foguetes contra o território israelense e Israel respondeu com bombardeios na Faixa de Gaza.
As hostilidades chegaram ao fim com um acordo de cessar-fogo mantido em grande parte, apesar de ataques de pequena escala, como o assassinato em novembro de um guia turístico israelense em Jerusalém por um professor palestino militante do Hamas.
Confira quatro mudanças que ocorreram desde então.
1. Popularidade do Hamas aumenta (e diminui)
O conflito em maio terminou com extensos danos estruturais em Gaza.
Mais de 1 mil casas foram destruídas ou danificadas nesse território palestino.
Apesar disso, o Hamas se autoproclamou vencedor do conflito.
E, pelo menos em termos da opinião pública palestina, foi o que aconteceu, de fato.
Mais importante, a pesquisa constatou que 53% dos palestinos consideraram o Hamas a organização que "mais merece representar e liderar" o povo palestino, muito à frente do Fatah, partido liderado pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abas, que obteve apenas 14% dos votos.
Hamas e Fatah disputam a liderança dos palestinos há décadas.
No entanto, uma sondagem do PCPSR realizada em dezembro mostrou que grande parte da popularidade do Hamas após o conflito de maio diminuiu significativamente.
Agora, apenas 34% dizem acreditar que o grupo militante merece liderar os palestinos, enquanto 23% se mostram favoráveis ao Fatah.
Segundo o levantamento, esses resultados refletem uma "clara decepção com a liderança do Hamas" em comparação com seis meses atrás.
2. Mais trabalho para os palestinos... em Israel
A taxa de desemprego em Gaza é superior a 40% e não é fácil para quem quer escapar dessa realidade.
Vários fatores tornam as condições econômicas naquele território muito difíceis, incluindo os rígidos controles de fronteira exercidos por Israel e Egito que limitam a capacidade dos habitantes de Gaza de ganhar a vida fora da região.
Desde o fim do conflito em maio, as autoridades israelenses começaram mais uma vez a emitir esse tipo de documento.
Esse aumento considerou apenas questões de segurança, mas também o estado das relações com os palestinos.
Em setembro, Israel anunciou que concederia até 7 mil autorizações de trabalho para habitantes de Gaza, mas em outubro anunciou que liberaria outras 3 mil, elevando o total para 10 mil, o maior número de permissões concedidas desde que o Hamas assumiu o controle da Faixa em 2007.
Esse gesto foi interpretado por especialistas como um sinal da vontade de preservar a frágil calma que existe na região.
Mas não é o único: Israel também ampliou a zona de pesca em que os moradores de Gaza podem pescar, vem facilitando o escoamento das exportações locais e em novembro autorizou a reativação das transferências mensais de cerca de US$ 30 milhões que o governo do Catar fornece ao Hamas.
3. Uma parede subterrânea "inteligente"
Em 7 de dezembro, Israel anunciou haver concluído a construção de uma barreira "inteligente" em torno de sua fronteira com Gaza.
A "cerca inteligente" tem 65 quilômetros de comprimento e seis metros de altura. As autoridades israelenses não divulgaram a profundidade da parede subterrânea.
O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, comemorou a conclusão da estrutura como uma forma de privar o Hamas de um mecanismo que o grupo estava usando para atacar Israel.
Os críticos do muro, no entanto, afirmam que sua construção serve apenas para confirmar o status de Gaza como "a maior prisão a céu aberto do mundo".
4. Um diálogo indireto
Desde o fim do conflito, Hamas e Israel mantiveram negociações indiretas que, com a mediação do Egito, permitiram que o cessar-fogo continuasse em vigor.
Do lado palestino, além de amenizar as restrições à livre circulação de bens e pessoas, o principal objetivo é promover a reconstrução de Gaza, projeto que pode custar quase US$ 500 milhões, segundo relatório do Banco Mundial, da ONU e da União Europeia.
Segundo a imprensa israelense, além das garantias de segurança, o governo daquele país está empenhado em conseguir uma troca de prisioneiros por meio da qual o Hamas libertará Avera Mengistu e Hisham al-Sayed, dois civis com histórico de problemas mentais, e entregará os corpos dos soldados Hadar Goldin e Oron Shaul, capturados e mortos por militantes palestinos em 2014.
As negociações envolvem indiretamente vários países, já que potenciais doadores para a reconstrução de Gaza, incluindo Emirados Árabes Unidos, Catar ou Estados Unidos, entre outros, também estabeleceram condições para a entrega de recursos.
Recentemente, o diálogo indireto entre Israel e o Hamas parece ter sido interrompido por diferenças entre as partes sobre a eventual troca de prisioneiros.
Vários meios de comunicação da região publicaram declarações atribuídas a porta-vozes do Hamas que acusam o Egito de atrasar desnecessariamente o processo de reconstrução de Gaza, visando obter maiores concessões do grupo militante.
Fonte: BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário