quarta-feira, 8 de abril de 2020

Braga Netto: ministro-chefe da Casa Civil, apaziguador e gestor

"Desconfiança obsessiva é uma característica do presidente Jair Bolsonaro, ao ponto de afirmar que pessoas de seu entorno lhe enfiaram uma “faca no pescoço” dentro do gabinete presidencial. É nesse contexto que o ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto, desponta como um dos personagens que Bolsonaro ainda considera insuspeito e a quem ouve atentamente em meio à escalada da crise do coronavírus.
O ministro da Casa Civil é quem está conduzindo o país no combate à pandemia. Na definição de um auxiliar, Bolsonaro “tem a caneta e a retórica”, mas delegou a Braga Netto a tomada de decisões de governo.

Braga Netto foi uma escolha pessoal de Bolsonaro para rearticular a Casa Civil, esfacelada após a gestão Onyx Lorenzoni. Embora tenha contado com o entusiasmado endosso dos outros generais palacianos: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), foi de Bolsonaro a ideia de trazê-lo para o governo a partir de sua experiência na intervenção no Rio.
Há dois anos, quando assumiu o cargo de interventor da área de segurança pública do Rio de Janeiro, Braga Netto confidenciou aos amigos que era a missão mais difícil de seus 40 anos de Exército – uma trajetória que já lhe havia rendido 23 condecorações nacionais e quatro internacionais.
Agora o general já admitiu aos mais íntimos que o combate à pandemia do ‘Sars-CoV-2’ é uma batalha ainda mais desafiadora.
Há dois anos ele comandava um efetivo de 71.954 policiais civis, militares, agentes penitenciários e bombeiros. Agora ele se equilibra entre a coordenação de 21 ministérios e o papel de anteparo no embate interno entre Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Apaziguador de atritos

Braga Netto atuou como bombeiro na última semana, depois que Bolsonaro criticou abertamente o ministro da Saúde em uma entrevista à rádio Jovem Pan. O Valor apurou que ele telefonou para Mandetta na sexta-feira, dia seguinte à entrevista, para tranquilizá-lo e continuar com fazendo seu trabalho.
Ao Valor, Maia confirmou que é um “admirador do ministro”. Contudo, a interlocução institucional tem sido feita com o ministro Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação parlamentar.
A dupla Braga Netto e Ramos tem tocado de ouvido. Ambos atuaram juntos no Rio de Janeiro em 2016 na organização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Os dois convenceram Bolsonaro a adotar um tom moderado no pronunciamento sobre os desdobramentos da pandemia na terça-feira, em contraste com a fala inflamda da semana anterior.

Condutor

Partiu de Braga Netto e Ramos a estratégia de levar as entrevistas coletivas sobre a pandemia para o Palácio do Planalto no esforço de passar a imagem de unidade na comunicação institucional do governo. Ao mesmo tempo, diluiu o protagonismo de Mandetta, que vinha incomodando Bolsonaro, já que ele passou a dividir os holofotes com outros ministros de diversas outras áreas que também estão em campo contra o vírus.
Segundo relatos, Braga Netto, avesso aos holofotes, não queria conduzir as entrevistas. Foi convencido por Ramos e hoje se sente confortável na tarefa.
Há menos de dois meses despachando na Casa Civil, ele montou um gabinete enxuto, com pessoas de sua confiança. Aos 62 anos, mineiro de Belo Horizonte, ele ingressou no Exército em 1975 na Academia Brasileira das Agulhas Negras (Aman). Depois tornou-se doutor em estratégia e alta administração pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, e concluiu pós-graduações na Fundação Getulio Vargas e na Escola Nacional de Administração Pública (Enap).
“Braga Netto é de trato afável, muito organizado mentalmente, cartesiano, tem ótimo jogo de cintura, e sabe antecipar cenários”, descreve este general da ativa, ligado ao ministro. É discreto e dedicado à família.
Essa qualidade ele já admitiu em uma conversa rápida com o Valor, no refeitório do Planalto: “Meu perfil é de gestão, abaixar a cabeça e trabalhar”. O diálogo deu-se em uma das incursões do general ao restaurante dos servidores, onde almoçava diariamente. Na quarentena, o local está fechado, servindo apenas as marmitas individuais. O ministro vai pessoalmente buscar a dele, em vez de enviar um emissário que lhe poderia levar o almoço."
Com informações do Valor Econômico.

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